
Pois é... Engraçado como tem notícia que a gente não vê nos jornais brasileiros.
Quem não se lembra do estardalhaço promovido pela nossa mídia e demais corneteiros de plantão quando uma certa patrícia picareta simulou um ataque de
skinheads na Suíça? Os jornais falaram em discriminação, em xenofobia, proferiram nossos bordões ufanistas mais batidos e toda a sorte de bravatas vazias para que nos sentíssemos vitimados pelas injustiças do mundo civilizado - até que se descobriu que tudo não passava de armação, e aí então ninguém mais tocou no assunto. Simples assim. Como se nada houvesse acontecido.
Mas basta a presepada ser nossa que os nossos jornais simplesmente ignoram o assunto. Como parecem ter ignorado por completo a prisão, a meu ver, injusta, de três franceses no último domingo em São Paulo.
Depois de gastarem suas economias viajando pelo Brasil, três turistas franceses terminaram a viagem detidos em São Paulo após um incidente ocorrido, ainda em solo, no interior de um avião da TAM. Os três passageiros, dois homens e uma mulher (com 63, 60 e 54 anos de idade respectivamente), embarcaram no domingo com aproximadamente outros 20 turistas, na maioria aposentados franceses, para retornarem à França. Porém, após o embarque, o avião ficou em solo por aproximadamente três horas devido a um problema técnico.
Segundo a Sra. Camus (a passageira francesa detida) relatou à AFP, o anúncio de que o avião apresentava uma pane no sistema de informática aterrorizou os franceses, que ainda têm na memória a tragédia com o vôo Rio-Paris da Air France, ocorrido em junho deste ano - sim, a imprensa francesa segue acompanhando o caso. Foi então que, impaciente pelo longo atraso e temendo pelas condições de segurança da aeronave, ela e outros passageiros pediram à tripulação para que trocassem de avião. Em resposta, um dos comissários disse que se eles quisessem trocar de avião, que desembolsassem mais algumas centenas de euros e comprassem outro bilhete. Foi então que a discussão se alastrou com a revolta de outros passageiros e culminou com a prisão de três turistas.
Segundo o cônsul geral da França, Sylvain Itte, os depoimentos da tripulação mencionavam ‘rebelião’ e ‘tentativa de invasão do cockpit’. Esta manhã, em entrevista à rádio francesa RTL, uma testemunha disse que o primeiro passageiro a ser preso, o Sr. Michel Illiskas, foi arrastado com truculência de uma ponta a outra do corredor até ser retirado da aeronave.
A Sra. Camus foi acusada de incitação à violência, sendo detida em seguida com outro passageiro, suspeito de ter encorajado o tumulto. Um casal de brasileiros que filmou o episódio também foi preso pela polícia, mas ambos foram liberados na terça-feira.
O caso gerou ainda um desconforto diplomático. Mesmo tendo abusado da paciência dos passageiros por conta do atraso, a TAM acusa os três franceses pelo atraso e posterior cancelamento do vôo, e ameaça processá-los por perdas e danos. Por sua vez, o consulado francês diz não ter sido informado oficialmente dessas acusações.
Assim como as autoridades brasileiras também não informaram o consulado francês sobre a ocorrência, o que impediu que qualquer ação de suporte diplomático aos três franceses fosse tomada. Segundo Sylvain Itte explicou à AFP, ocorreram pelo menos duas violações da Convenção de Viena sobre os procedimentos de prisão de cidadãos estrangeiros. A prisão só foi informada às autoridades francesas graças a um pedido de ajuda feito pelo filho do Sr. Illinskas à polícia de Paris por telefone.
Agora proponho que façamos um pequeno exercício de reflexão e subversão da realidade. Vamos inverter os papéis dessa história: imaginemos três turistas brasileiros sendo presos nessas condições em um avião da Air France em Paris. Imaginou o tamanho da "comoção nacional"? Pois é...
O que alguns chamam de ‘rebelião’ eu conheço por ‘legítimo exercício do direito à vida e à segurança’.
Para saber mais, leia a notícia na íntegra no jornal
Le Parisien.