Quando li a primeira crítica do filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen, percebi que estava diante de algo que, mesmo que não fosse a obra-prima que é, teria de assistir. A história me pegou logo de cara, mas não pelo fato de o personagem principal viajar no tempo e encontrar ícones de uma era com os quais eu convivi em dois livros recentes - Paris Não Tem Fim, de Henrique Vila-Matas e Os Exilados de Montparnasse, de Jean Paul Caracalla, - e que eram seus ídolos ou, mesmo que não fossem, eram artistas geniais – e sim pelo fato de que ele está em Paris e, apesar de ser americano, estar de casamento marcado com a filha de um milionário americano, pensa em, de alguma forma, ficar por ali, casar nos EUA, sim, mas morar em Paris para se inspirar e poder escrever romances. A noiva nem imagina em morar em Paris. Prefere Malibu ou algo parecido.
A história me lembrou um amigo que viveu em Paris alguns anos e relutou em voltar e que, como o herói de Woody Allen, também escreve e gostaria de alçar vôos mais altos. Mas a vida às vezes não nos deixa escolhas ou, talvez melhor, adia essas escolhas por um tempo.
A crítica do filme continuou me contagiando e quando acabei de ler fui pesquisar a programação dos cinemas de Campinas. Domingão à tarde era o melhor horário pra mim. Eu disse “que futebol, que nada” e me mandei para o cinema. Zezé, minha mulher, cansada após um sábado exaustivo, decidiu não ir.
Para minha surpresa, o cinema lotou, o que não é comum em se tratando de Woody Allen. Antes de começar o filme, lancei uns olhares pela platéia e, outra surpresa, constatei que ela se dividia em várias idades - jovens, adultos e outros como eu, já passados dos cinquenta. Veja só, pensei, um filme de Woody Allen atraindo gerações.
O início do filme, com uns 5 minutos de paisagens parisienses sob um tema de jazz delicioso (Woody Allen tocava ou toca clarinete num grupo de jazz) como se fosse um comercial da cidade é de emocionar qualquer um, mas principalmente quem vê Paris como eu. Explico: estive lá duas vezes, dez dias cada vez, em 2001 e 2002. Penso em voltar, quero voltar e, tenho certeza, vou voltar. Desde 2001, sonho em viver lá, andar por lá, ver tudo de novo e ver também tudo que ainda me é novo. Enfrentar o frio que eu não gosto com, no mínimo, pinta de quem está aguentando firme e, finalmente, aprender francês de vez, eu que apenas balbucio algumas frases feitas tiradas de alguns sucessos musicais dos anos 60 e 70 e outras das aulas da Maria Bon Jour no Colégio Estadual Culto à Ciência de Campinas.
A partir desse início, para mim arrasador, fiquei me deliciando com o resto do filme. Adorei cada momento, curti cada paisagem que via ou revia, ri a cada piada e situação, adivinhei o nome de quase todos os artistas do início dos anos 20 do século passado que aparecem, sofri um pouco para lembrar que o que ele sugere a Buñel acabou virando O Anjo Exterminador e me deliciei com os rinocerontes ainda virtuais de Salvador Dalí, eu que vi um deles - e até fotografei - quando uma exposição do surrealista espanhol veio para Campinas e expôs a enorme escultura na rua, em frente ao museu. Segurei um nó na garganta várias vezes - e o filme não tinha um momento sequer que sugerisse lágrimas. Era a saudade de Paris que aflorava vez em quando misturada à impossibilidade de sair do cinema e pegar um avião da Air France em Cumbica (nem precisava reencontrar a linda aeromoça que me disse “je vous écoute” na primeira viagem) e descer no Charles De Gaulle no outro dia de manhã.
No domingo seguinte, Zezé disse que queria ver o filme. Fui com ela.
Edmilson Siqueira
A história me lembrou um amigo que viveu em Paris alguns anos e relutou em voltar e que, como o herói de Woody Allen, também escreve e gostaria de alçar vôos mais altos. Mas a vida às vezes não nos deixa escolhas ou, talvez melhor, adia essas escolhas por um tempo.
A crítica do filme continuou me contagiando e quando acabei de ler fui pesquisar a programação dos cinemas de Campinas. Domingão à tarde era o melhor horário pra mim. Eu disse “que futebol, que nada” e me mandei para o cinema. Zezé, minha mulher, cansada após um sábado exaustivo, decidiu não ir.
Para minha surpresa, o cinema lotou, o que não é comum em se tratando de Woody Allen. Antes de começar o filme, lancei uns olhares pela platéia e, outra surpresa, constatei que ela se dividia em várias idades - jovens, adultos e outros como eu, já passados dos cinquenta. Veja só, pensei, um filme de Woody Allen atraindo gerações.
O início do filme, com uns 5 minutos de paisagens parisienses sob um tema de jazz delicioso (Woody Allen tocava ou toca clarinete num grupo de jazz) como se fosse um comercial da cidade é de emocionar qualquer um, mas principalmente quem vê Paris como eu. Explico: estive lá duas vezes, dez dias cada vez, em 2001 e 2002. Penso em voltar, quero voltar e, tenho certeza, vou voltar. Desde 2001, sonho em viver lá, andar por lá, ver tudo de novo e ver também tudo que ainda me é novo. Enfrentar o frio que eu não gosto com, no mínimo, pinta de quem está aguentando firme e, finalmente, aprender francês de vez, eu que apenas balbucio algumas frases feitas tiradas de alguns sucessos musicais dos anos 60 e 70 e outras das aulas da Maria Bon Jour no Colégio Estadual Culto à Ciência de Campinas.
A partir desse início, para mim arrasador, fiquei me deliciando com o resto do filme. Adorei cada momento, curti cada paisagem que via ou revia, ri a cada piada e situação, adivinhei o nome de quase todos os artistas do início dos anos 20 do século passado que aparecem, sofri um pouco para lembrar que o que ele sugere a Buñel acabou virando O Anjo Exterminador e me deliciei com os rinocerontes ainda virtuais de Salvador Dalí, eu que vi um deles - e até fotografei - quando uma exposição do surrealista espanhol veio para Campinas e expôs a enorme escultura na rua, em frente ao museu. Segurei um nó na garganta várias vezes - e o filme não tinha um momento sequer que sugerisse lágrimas. Era a saudade de Paris que aflorava vez em quando misturada à impossibilidade de sair do cinema e pegar um avião da Air France em Cumbica (nem precisava reencontrar a linda aeromoça que me disse “je vous écoute” na primeira viagem) e descer no Charles De Gaulle no outro dia de manhã.
No domingo seguinte, Zezé disse que queria ver o filme. Fui com ela.
Edmilson Siqueira
7 comentários:
Oi, tio! Adorei o texto...eu já estava com vontade de ver este filme e o post só aumentou a minha curiosidade. Vou seguir sempre o blog. Bjos, Renata.
Ed, já queria ver o filme desde as férias. Mas, agora com seu texto, você colocou pimenta na vontade. Adorei!
Bj Paula
A estréia do Ed no Viver Paris foi um sucesso. Publico abaixo alguns dos comentários sobre o texto recebidos por e-mail:
Que chique, Ed.
Falar de Paris é sempre muito bom, aliás, se pudesse viveria lá. Sucesso e mande sempre notícias.
Bjs
Paula Ricoy
Parabéns.
Bjs.
Sheila Roseli
Grande Ed !!!
João Pedro
Jornalista Edmilson: o belo escritor argentino Julio Cortázar, como você sabe, passou a maior parte da sua vida em Paris. Mas antes de ir pra lá de vez, quando ainda morava no seu país, mantinha correspondência com uma amiga que já estava há tempos na chamada Cidade Luz. Pois bem, através da correspondência cresceu, dentro do escritor, uma Capital francesa toda especial. E quando finalmente ele se mandou para lá, passou a vida inteira a procurar a Paris das cartas. Nunca encontrou. Mas escreveu, sobre o tema, um belo conto. Que nem sei como ainda não virou filme de Woody Allen. Em tempo: vi o filme que você cita em Belém, faz uns dias. Mas a grande personagem do autor, em termos de cidade, continua a ser NY.
Antonio Contente
Que lindo, pai!
Declarações de amor sempre me são agradáveis. Adorei o texto, muito gostoso de ler... quase ouvi sua voz ali...
Na próxima quero saber mais de Paris e menos do Woddy Allen!
Beijos!
Paulinha
Gostei! beijos Carmen xxx
Ah, Ed, como campineira que não nasceu aqui mas, que diabos, adora a cidade apesar de... bom, vc sabe apesar-do-quê, fiquei meio enciumada. Sossegue o pito, deixe o avião pra mais tarde e veja se dedica linhas igualmente inspiradas a esta que já foi, quem diria, a Cidade das Andorinhas. Ela, coitada, a dita metrópole, bem que está precisando de cafuné...
Beijos
Monica
parabéns, o blog é muito bom,o colaborador Edmilson Siqueira escreve tb de uma maneira que nos faz viajar. a Paris. Estive tres vezes em Paris e cada vez descobri lugares diferentes, realmente a mais bela cidade.
Estou com viagem marcada para Paris. E na busca de dicas de viagem achei seu blog.....e confesso amei.....escrita fácil e gostosa...vou seguir sempre....BEijo,...
Ah meu nome é SAra, sou fisioterapeuta.....e escrevo um blog tb sobre o assunto sarafisio.wordpress.com.....bjusss
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