Edmilson Siqueira
Fiz 60 anos domingo passado e, se os deuses do Olimpo tivessem me ouvido, tê-los-ia comemorado em Paris. Não, não seria uma comemoração em Paris com toda a pompa que o nome sugere. Seria um dia como outro qualquer que mereceria um vinho talvez um pouco mais caro num café do Quartier Latin ou de uma colina de Montmartre, adivinhando os espíritos sombrios que por ali já passaram e que, por certo, estariam rondando minha mesa. Minha não, nossa. Zezé estaria ali, com certeza. E talvez um ou outro amigo que tivesse feito por lá. Não sou de fazer amigos, talvez a idade tenha me tornado meio ranzinza e acabo muitas vezes perdendo a paciência.
Ah, a falta de pompa também se daria porque eu não teria ido para lá só por causa da data. Eu já estaria lá e “comemorar em Paris” seria apenas uma consequência da mistura do fato geográfico com o calendário gregoriano que vivemos.
Eu teria ido a Paris um ou dois anos antes, satisfeito porque finalmente as finanças teriam permitido o sonho se realizar. Teria alugado um apartamento em qualquer margem do Sena, mesmo longe do Sena, com vista para qualquer coisa, pois qualquer coisa seria Paris, mesmo que fosse o prédio em frente.
Já falaria francês fluentemente, pois teria frequentado aulas como um colegial aplicado e, sempre que possível, puxaria uma conversa com alguém só para saber o que já conseguia entender. Porque uma coisa é a professora lhe falar pausadamente para que você entenda a lição do dia. Outra é a voz das ruas, do cidadão comum que não está nem aí com o fato de você ser estrangeiro. Assim, fazendo de toda Paris um enorme livro da língua de Victor Hugo e de cada conversa uma pequena aula, eu já manjaria até uma porção de gírias. A prova de fogo teria sido em algum jardim de Paris, onde senhores aposentados passam o tempo jogando pétanque, aquele jogo que se parece com a bocha. Parece, não, é o mesmo, talvez só mudando o tamanho e o local dos campos. Sentar ali, apreciar o jogo e entender tudo o que eles falam, seria a prova final do meu curso.
Em domingos de sol - primavera ou verão, não importa - aprontaríamos uma sacolinha com uma toalha, alguns queijos, uma saladinha num tapeware, umas frutas e uma garrafa de vinho branco que saberíamos manter gelado, e iríamos ao Parc Floral curtir um show qualquer no seu auditório ao ar livre. O gramado abrigaria a toalha e nossos corpos sentados, ouvindo uma boa música, comendo um bom queijo e bebendo um bom vinho. Na saída não haveríamos de nos preocupar com o carro parado lá fora. Ele estava seguro sem a necessidade de “guardadores” que exigem pagamento adiantado para não guardar nada. Isso se tivéssemos carro, porque o Metrô nos levaria até a poucos metros do parque e, na volta, nos deixaria “pertindicasa”, com diz um amigo mineiro.
Na volta, poderíamos escolher um cinema, um teatro, um casa de jazz ou fazer um passeio a pé mesmo, que cada esquina tem um cartão postal pronto para ser admirado.
Meus 60 anos foram comemorados sábado passado, com alguns familiares e amigos e amigas no meu apartamento em Campinas. Foi uma noite alegre em que tive a sensação de estar entrando de vez para o rol dos “idosos” quando minha filha me perguntou: “Ô pai, agora você pode estacionar naquelas vagas maneiras do shopping?” Pois é, fiz meu cadastro na prefeitura e logo mais terei o cartão de idoso que me dá o privilégio. Não, não é Paris e não há um jardim para se jogar pétanque em segurança por aqui, mas já é alguma coisa.
Fiz 60 anos domingo passado e, se os deuses do Olimpo tivessem me ouvido, tê-los-ia comemorado em Paris. Não, não seria uma comemoração em Paris com toda a pompa que o nome sugere. Seria um dia como outro qualquer que mereceria um vinho talvez um pouco mais caro num café do Quartier Latin ou de uma colina de Montmartre, adivinhando os espíritos sombrios que por ali já passaram e que, por certo, estariam rondando minha mesa. Minha não, nossa. Zezé estaria ali, com certeza. E talvez um ou outro amigo que tivesse feito por lá. Não sou de fazer amigos, talvez a idade tenha me tornado meio ranzinza e acabo muitas vezes perdendo a paciência.
Ah, a falta de pompa também se daria porque eu não teria ido para lá só por causa da data. Eu já estaria lá e “comemorar em Paris” seria apenas uma consequência da mistura do fato geográfico com o calendário gregoriano que vivemos.
Eu teria ido a Paris um ou dois anos antes, satisfeito porque finalmente as finanças teriam permitido o sonho se realizar. Teria alugado um apartamento em qualquer margem do Sena, mesmo longe do Sena, com vista para qualquer coisa, pois qualquer coisa seria Paris, mesmo que fosse o prédio em frente.
Já falaria francês fluentemente, pois teria frequentado aulas como um colegial aplicado e, sempre que possível, puxaria uma conversa com alguém só para saber o que já conseguia entender. Porque uma coisa é a professora lhe falar pausadamente para que você entenda a lição do dia. Outra é a voz das ruas, do cidadão comum que não está nem aí com o fato de você ser estrangeiro. Assim, fazendo de toda Paris um enorme livro da língua de Victor Hugo e de cada conversa uma pequena aula, eu já manjaria até uma porção de gírias. A prova de fogo teria sido em algum jardim de Paris, onde senhores aposentados passam o tempo jogando pétanque, aquele jogo que se parece com a bocha. Parece, não, é o mesmo, talvez só mudando o tamanho e o local dos campos. Sentar ali, apreciar o jogo e entender tudo o que eles falam, seria a prova final do meu curso.
Em domingos de sol - primavera ou verão, não importa - aprontaríamos uma sacolinha com uma toalha, alguns queijos, uma saladinha num tapeware, umas frutas e uma garrafa de vinho branco que saberíamos manter gelado, e iríamos ao Parc Floral curtir um show qualquer no seu auditório ao ar livre. O gramado abrigaria a toalha e nossos corpos sentados, ouvindo uma boa música, comendo um bom queijo e bebendo um bom vinho. Na saída não haveríamos de nos preocupar com o carro parado lá fora. Ele estava seguro sem a necessidade de “guardadores” que exigem pagamento adiantado para não guardar nada. Isso se tivéssemos carro, porque o Metrô nos levaria até a poucos metros do parque e, na volta, nos deixaria “pertindicasa”, com diz um amigo mineiro.
Na volta, poderíamos escolher um cinema, um teatro, um casa de jazz ou fazer um passeio a pé mesmo, que cada esquina tem um cartão postal pronto para ser admirado.
Meus 60 anos foram comemorados sábado passado, com alguns familiares e amigos e amigas no meu apartamento em Campinas. Foi uma noite alegre em que tive a sensação de estar entrando de vez para o rol dos “idosos” quando minha filha me perguntou: “Ô pai, agora você pode estacionar naquelas vagas maneiras do shopping?” Pois é, fiz meu cadastro na prefeitura e logo mais terei o cartão de idoso que me dá o privilégio. Não, não é Paris e não há um jardim para se jogar pétanque em segurança por aqui, mas já é alguma coisa.
10 comentários:
Ed. adoro seus textos... ultimamente leio apenas seus e-mails, os únicos interessantes no tsunami da minha caixa. Esse texto me fez passear novamente pelas ruas de Paris... E antes que me esqueça, parabéns! Bjs Bia
Parabéns triplo Ed. Pelo aniversário, pelo texto e pela colaboração nesse blog que todos nós gostamos muito. Quanto a Paris, meu caro, ela não sabe o que está perdendo por não ter você e Zezé por lá. Abração!
Agora eu já sei o que vc pediu quando assoprou as velinhas e partiu o bolo de baixo pra cima, como rezam a tradição e a esperança...
Parabéns Ed! Seguem mais comentários recebidos por e-mail:
Parabéns, Edmilson! mesmo que atrasado, lhe desejo que muito em breve possa comemorar em Paris, não mais os seus 60 anos, mas essa vida repleta de momentos felizes. Seu texto me fez viajar por uma Paris bela e apaixonante. Obrigada por me apresentar este blog, adorei.
beijos
Claudia Colbert
Parabéns Dr Ed. !!
Como sempre uma beleza!
Abraço
Ricardo Rollo
Edmilsom, gostei muito do que vc escreveu no blog. Fico feliz de ver vc escrevendo coisas que vc gosta muito e que já viveu. Assim você sai um pouco da política. Vai em frente que está muito bom. Parabéns.
Bjs.
Rudi
Oi Ed, parabéns por três motivos: pelo dia dos pais, pelo seu aniversário e pela sua estréia no Viver Paris que eu curto muito.
Beijos.
Lúcia Romeiro
Parabéns, a você e a nós que podemos le-lo de novo. Guiomar Cuyabano
Parabéns atrasado pelo aniversário mas quem ganhou o presente fui eu que descobri o blog hoje e me deliciei com seu texto.
Poderia ter sido escrito por mim, se tivesse esse talento, pois o sentimento é o mesmo a respeito de Paris.
Muito obrigada.
Já sou sua fã!
Myrian
Olá, Edmilson
Adorei seu texto. Através dele consegui sentir o cheiro da 'cidade luz" que tive o prazer de visitar um dia.
Parabéns! Por tudo!
bjs
Caro Edmilson... Belíssimo texto.
Quer em Paris, quer no Brasil, a dádiva de completar 60 anos lhe fora concedida, aproveite-a da melhor e mais especial forma possível...
Sinceramente, o que mais chamou-me a atenção foi o título "Aos 60 do segundo tempo", suponhamos que um dado "jogo" tem 90 minutos, e que cada minuto corresponda há um ano no jogo da vida, tens 30 anos de crédito e, claro, com toda certeza, com direito a prorrogação de mais dois tempos de 15 anos... No total, uns 120 anos de vida... Que bênção! Acabo de chegar a conclusão de que estás aos 60 do primeiro tempo... Viva os outros 60e Paris continua a te esperar...
C'est la vie.
Bons Ventos, Madá.
O blog ficou ainda mais charmoso com a colaboração das crônicas do Edmilson. Parabenizo a todos da equipe!
Há tempos tenho acompanhado este blog, porém nada postei. Recentemente, 12/Ago/11 eu e minha esposa retornamos a Paris, agora para comemorar 40 anos de casados. Paris é uma festa para a alma. Amamos esta cidade maravilhosa e esplendorosa em todos os sentidos. Viver e sentir a cidade, andando por suas ruas, pegando metrô, ônibus, táxi, um bom croissant+café+água+chope+etc.....sentado numa calçada de bar, tomando sol e deixando o tempo passar, sem horário e sem compromisso! Bela Paris... Quanta saudade....
Abçs a todos e até a próxima.
OI,
Parabéns atrasado pelo seu aniversário... e pelo belíssimo texto que, mais uma vez, acendeu a chama da vontade. Não que ela se apague, mas as vezes, adormece por conta da correria da vida. Ficarei aqui sonhando...
Abraço,
Cacau
Postar um comentário