1 de novembro de 2012

O curioso caso do Henri IV

O rei da França Henri IV (ou Henrique IV para os lusófonos) foi um personagem histórico cuja vida - e a morte - fora marcada por passagens bem curiosas. A mais estranha delas é a de que talvez ele tenha sido o único rei da França que perdeu a cabeça sem ter passado pela guilhotina. Vamos ao caso...

Em 14 de maio de 1610 o Rei da França Henri IV foi assassinado a facadas pelo professor - e extremista religioso - François Ravaillac diante do número 10 da rue de la Ferronnerie. A propósito, é nessa rua curtinha do 1° arrondissement que se situa um dos imóveis mais longos de Paris, um edifício construído entre os anos de 1669 e 1678 que ocupa os números 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14. Essa rua é bem antiga e até 1229 chamava-se rue des Charrons. O local exato do assassinato de Henri IV foi marcado com uma placa com o emblema real instalada no piso e pode ser vista ainda hoje por quem passa por ali.

Se ficasse no Brasil o edifício da rue de la Ferronnerie talvez fosse apelidado de 'O Compridão'.
 
O brasão real em memória de Henri IV marca o local da morte do rei.

O corpo de Henri IV foi sepultado no mausoléu real da basílica de Saint-Denis - onde estão enterrados mais de 70 reis da França. Porém, em 1793 a basílica foi saqueada pelos revolucionários e o túmulo de Henri IV profanado. A cabeça do corpo embalsamado do rei foi retirada na confusão e ficou perdida durante anos. Tempos depois, uma cabeça embalsamada atribuída a Henri IV começou a passar pelas mãos de diversos colecionadores, sem que ninguém soubesse ao certo se, de fato, era ou não a cabeça perdida do rei.

A estátua eqüestre de Henri IV ornamenta a Pont Neuf.

Foi só em janeiro de 2010 que o jornalista francês Stephane Gabet, depois de muita pesquisa, localizou a tal cabeça no sótão do aposentado Jacques Ballanger. Segundo Gabet, a cabeça havia sido arrematada por um casal num leilão em meados de 1900, passando em 1955 para as mãos de Jacques Bellanger. Gabet encaminhou então a cabeça para o médico forense Philippe Charlier do hospital da Universidade Raymond Poincaré em Garches. Através uma série de testes, o médico acabou confirmando que a cabeça era mesmo de Henri IV. Em 2011, a cabeça real voltou então à basílica de Saint-Denis para, finalmente, repousar junto ao seu corpo.

Morada eterna dos reis: o túmulo do Vert Galant na basílica de Saint-Denis.

O Vert Galant, como era conhecido Henri IV, teve 6 filhos legítimos (dentre os quais o rei Louis XIII) e outros 12 (!) ilegítimos. Para que conste, Vert Galant é o termo em francês usado para designar os tiozões que, apesar da idade, têm ímpeto aventureiro ou demonstram notável ousadia com as mulheres.

Rue de la Ferronnerie
Metrô: Châtelet linhas 1, 7, 11 e 14 ou Les Halles linha 4

Basílica de Saint-Denis
Metrô: Saint-Denis linha 13

"Paris vale bem uma missa." - Henri IV, 1593

5 de outubro de 2012

Preços lá e cá: Renault Clio

Pois é Joãozinho...

Apesar das novidades no ramo automotivo brasileiro seguirem em plena efervescência, continuamos ainda um tanto defasados em relação aos modelos que rodam nos Estados Unidos e Europa.

Um exemplo claro disso é o Renault Clio. Um zero quilômetro do atual modelo francês custa, “no dinheiro de hoje” - como diria o vô Osório - o equivalente a 36.000,00R$, enquanto que o modelo vendido no Brasil tem preço de entrada fixado em pouco mais de 24.000,00R$.


O modernoso Clio francês custa 9,6 salários mínimos aos 'enfants de la Patrie'.
É verdade Joãozinho... Em valores absolutos, na França o Clio custa mais caro... Mas convenhamos: é outro carro, hein! Além da diferença entre os modelos vendidos lá e cá serem gritantes, vale lembrar que o salário mínimo na França equivale a pouco mais de 3.760,00R$ enquanto no Brasil o "faz-me rir" é de apenas 700,00R$.
 
Já o simplão Clio brasileiro custa a partir de 34 salários mínimos aos 'filhos deste solo'.
Está previsto para 2013 o lançamento de um novo modelo do Renault Clio no Brasil - mas ainda não será a belezura que já roda hoje em solo francês.

27 de setembro de 2012

Sur le miel de Paris

E eis que de tempos em tempos é chegada a tão esperada hora da colheita do mel sobre os tetos de Paris.

Há alguns anos essa bela iniciativa tomou forma quando as primeiras colmeias foram instaladas sobre os telhados da Opéra e do Grand Palais. O enorme sucesso conquistado pelo sabor e pureza do mel parisiense levou outras empresas a aderirem à ideia, como a Louis Vuitton, os charmosos hotéis Westin e Scribe, a rede de supermercados Monoprix e o estrelado restaurante La Tour d’Argent - só para citar alguns exemplos.

Por mais inusitada que possa parecer a imagem de apiários espalhados pela área urbana da cidade, o mel parisiense tem mostrado um grau de qualidade singular. Graças a fartura de flores que se fazem notar nas inúmeras floreiras que ornamentam as janelas e sacadas dos edifícios, na extensa área verde que cobre as diversas praças e parques públicos da cidade e da proximidade com bosques preservados, as abelhas contam com um verdadeiro banquete a sua disposição - e tudo sem o risco da temida contaminação por pesticidas. Soma-se a isso o fato da cidade ter baixo índice de poluição e das colmeias estarem situadas acima do nível das árvores, cujas copas se encarregam de filtrar o ar.


Janelas floridas: elemento marcante da vida cotidiana parisiense.

O Monorpix, por exemplo, instalou recentemente 18 colméias nos telhados das suas unidades localizadas na avenue des Ternes e em Porte de Châtillon. O mel é produzido de forma totalmente artesanal, sendo envasados manualmente e vendido em 7 supermercados da rede instalados na cidade (Ternes, Porte de Châtillon, Rue du Bac, Champs Elysées, Montparnasse, Saint-Michel e Opéra), garantindo a pureza do produto, o controle de procedência e a diminuição de gastos com transporte e demais despesas operacionais de distribuição.

Os hotéis Westin e Scribe além de venderem o mel e a geléia real produzidos sobre seus telhados, ainda têm parte de suas colheitas revertidas para o próprio serviço de hotelaria - como ingrediente usado nas cozinhas de seus restaurantes e na fabricação de cosméticos 100% naturais usados nas sessões de cuidados pessoais de seus spas.

O 'mel com griffe' produzido no Hotel Scribe de Paris

Já a Louis Vuitton, que cultiva mel em seu telhado desde 2009, não tem nenhum interesse em explorar comercialmente sua produção. O cobiçado mel La Belle Jardinière é oferecido como presente a amigos e clientes da marca como forma de sensibilizar colaboradores e parceiros sobre a importância da preservação da biodiversidade.


O mel sendo coletado na Opéra de Paris.

E se a grande quantidade de flores presentes na cidade tem ajudado as abelhas parisienses a produzirem o mel num volume muito acima da média, a variedade de flores por sua vez tem se encarregado de conferir sabores inusitados ao mel de Paris - as colmeias cultivadas no Tour d’Argent, por exemplo, costumam produzir mel com notas de lavanda e menta. Já as colmeias localizadas nas imediações da avenues des Champs-Elysées produzem mel cítrico.


Um anúncio do mel produzido e comercializado pelos supermercados Monoprix

Mas não podemos nos esquecer de que parte do sucesso dessa experiência se deve ao engajamento da prefeitura de Paris ao projeto. Através do acompanhamento efetivo, a prefeitura evita o risco de eventuais desequilíbrios ambientais. A prefeitura limitou em 700 o número máximo de colmeias na cidade, além de regulamentar a distância mínima a ser respeitada entre elas. Hoje existem aproximadamente 350 colmeias produzindo mel sobre os poéticos tetos de Paris.

6 de setembro de 2012

Tous au restaurant


Organizada por profissionais da restauração e hotelaria e apadrinhada pelo mega-chef Alain Ducasse, a terceira edição da festa nacional dos restaurantes Tous au Restaurant acontecerá de 17 a 23 de setembro em toda a França.

Sob o slogan " seu convidado é nosso convidado " o evento oferece a cada menu completo pedido (com entrada, prato principal e sobremesa), um segundo totalmente de graça. Vale mencionar que o menu gratuito é uma sugestão surpresa escolhida pelo chef.

Em Paris, um um restaurante móvel circulará pelas ruas de diferentes quartiers da cidade ao longo de toda a semana, onde grandes chefs se revesarão no comando das panelas nos horários do almoço e do jantar.

O evento acontecerá em mais de mil restaurantes em todo o país, alguns deles contando com chefs estrelados.

Mas é bom ser rápido se quiser conseguir um lugar no evento, Joãozinho. Para garantir o padrão de qualidade dos pratos servidos nos restaurantes participantes (inclusive no restaurante móvel, que servirá apenas 40 refeições por horário), as reservas são limitadas e só podem ser feitas pela internet através do site Tous au restaurant.

Alain Ducasse: a lenda-viva em seu habitat natural.

O Figaroscope recomendou esta semana alguns chefs parisienses que estarão no restaurente móvel: Jacques Maximin e Adrien Trouilloud da Rech, uma brasserie do grupo Alain Ducasse especializada em frutos do mar - dia 17/set no almoço; Frédéric Vardon do 39V - dia 20/set no almoço e jantar; e David Toutain do Agapé Substance - dia 24/set no jantar.

A programação completa, preços e informações práticas estão disponíveis no site www.tousaurestaurant.com/fr.

9 de março de 2012

Colette Carnaval: a boa dica do fim de semana

Para celebrar seus 15 anos de existência a loja-conceito Colette preparou uma surpresa supimpa - é a Colette Carnaval que acontece neste final de semana (10 e 11 de março) em Paris.

A loja resolveu sair para um passeio ao ar-livre e instalou-se confortavelmente em uma tenda de 4.000m2 (sério!) no Jardin des Tuileries. Durante o final de semana essa 'sucursal efêmera' da Colette colocará a venda uma infinidade de top produtos de top marcas de vestuário, beleza e alimentação.

Mas calma que a surpresa não pára por aí. A Colette também preparou diversas atividades gratuitas para agradar aos visitantes de todos os gostos e estilos que prestigiarem a ocasião. Quer alguns exemplos?

Serão ministradas aulas de dança clássica promovidas pela Repetto - a famosa marca de calçados, roupas e acessórios para dança; sessões de relaxamento com massagem facial e manicure; partidas de basquete patrocinadas pela Nike - para se sentir um astro da NBA pelo menos uma vez na vida; degustação de pedacinhos do Céu elaborados pela Ladurée: macarons à la barbe à papa (macarons de algodão doce) feitos com exclusividade para Colette. A programação completa do evento está no site da Colette Carnaval.

Os macarons à la barbe à papa da Ladurée: se essas belezinhas viciarem você, compre mais na Colette da rue Saint-Honoré por 9,00 euros a caixinha. Além de serem deliciosos ainda servem como um souvenir très chic de Paris.

Mas imagine que durante o passeio seus dois filhotes, Cláudio Renato e Clóvis Roberto, de 13 e 16 anos começam a se queixar de fome. Daquela fome matadora que nem macarons às dúzias darão conta de saciar. Nesse caso dá para os rapazes se acabarem de comer no Le Camion qui fume, que faz os sandubas mais parrudos da cidade. Le Camion qui fume é uma lanchonete móvel que vai se instalar por ali no final de semana. Recomendações para o Manhattan's Hot Dog elaborado bem ao estilo de New York.

Não vai deixar escorrer pelos cotovelos e sujar o chão da Colette, Joãozinho! O sanduba do 'Le Camion qui fume': grande, engordativo e imprestavelmente delicioso.

Ah, e falando em New York... Quem quiser levar um souvenir permanente desse dia vai gostar de saber que o famoso tatuador nova-iorquino Scott Campbell estará no evento prestando seus serviços. No currículo do artista consta uma clientela estrelada, como o saudoso Heath Ledger, Robert Downey Jr., Courtney Love, Orlando Bloom, Sting, Josh Hartnett e Marc Jacobs, diretor de criação da Louis Vuitton.

O tatuador Scott Campbell: ao seu dispor na Colette Carnaval que acontece em Paris neste final de semana.

Le Colette Carnaval
No Jardin des Tuileries - em frente ao número 206 da rue de Rivoli
Metrô: Tuileries linha 1
Dias 10 e 11 de março das 12h00 as 18h00
Entrada gratuita

8 de março de 2012

Placa de carro: uma invenção francesa

Você sabia a idéia de emplacar os veículos surgiu na França? Quer saber como foi? Eu conto procê...

Tudo começou em 1749, quando um certo monsieur Guillaume, oficial da guarda parisiense, levou ao conhecimento do rei Louis XV sua idéia de cadastrar os veículos movidos a tração animal que circulavam na cidade. Mas foi só em 1783 que a idéia de monsieur Guilleume foi oficialmente colocada em prática, quando o Conselho do Rei determinou que todas as carruagens e carroças da cidade portassem uma placa de metal contendo o nome e o endereço de seus proprietários.

Nos anos 50 os 2 últimos dígitos da placa passaram a indicar o département de origem do carro.

Tempos depois, em meados de 1891 no parque de la Tête d'Or na cidade de Lyon, foi implantado aquilo que seria o primeiro sistema de matrícula de veículos automotores do mundo. Àquela época o parque de la Tête d'Or era aberto aos carros, o que resultava com certa frequência em pequenos acidentes. Afim de identificar quem eram os responsáveis por provocar acidentes, a administração municipal exigiu que todos os motoristas numerassem seus carros em local visível. Em 1893 os números controlados pela administração foram acrescidos do nome e do endereço dos proprietários dos veículos - mais ou menos como faziam com as as carruagens um século antes. Essas informações de nome e endereço acabaram desaparecendo já em 1901, após um acidente causado por um menor de idade ter gerado uma tremenda confusão na cidade de Louvriers. Nessa época várias cidades já adotavam o mesmo sistema de Lyon e as autoridades acabaram confundindo o número do carro pilotado pelo garoto com o de outra pessoa - uma vez que se alguém estivesse dirigindo fora de sua cidade de origem, poderia resultar em dois carros diferentes portando números iguais num mesmo lugar.

O modelo de placa que vigorava na França quando o Peugeot 205 era o 'ó do borogodó'.

Mesmo assim (e só depois de muita discussão) foi em 1928 que decidiram combinar letras e números nas placas dos veículos para evitar confusão. Depois disso o sistema francês de registro de veículos seria totalmente revisto em 1950, quando as placas passaram a trazer em sequência, números, letras e o código do département. Nos anos 70 o sistema de numeração de placas foi totalmente informatizado na França e passou a se chamar FNI (Fichier National de Immatriculations).

Ah, vamos combinar... A atual placa francesa é bem bonitona, hein...

Em 2009 foi implantado o novo sistema de matrícula de veículos, conhecido na França por SIV (Système d'Immatriculation des Véhicules) que unificou todo o sistema de registro nacional e remodelou as placas dos carros que passaram a apresentar o formato 'letras-números-letras'. O código do département passou a constar em tamanho menor, logo abaixo do respectivo símbolo da region.

Cada coisa no seu lugar: acima, o significado de cada item que compõe uma placa.

A placas de carro têm uma certa importância afetiva para os franceses que estão hoje na casa dos 30 anos. Isso porque durante a infância eles se divertiam enquanto tentavam decorar os códigos dos départements franceses através das placas dos carros. Era uma brincadeira comum de criança tentar adivinhar primeiro que todo mundo de onde era determinado carro que passava pela estrada através do código do département impresso na placa. Houve até manifestações populares em 2009 contra a implantação do novo modelo de placas, que inicialmente previa a supressão total do código do département.

Départements e símbolos das régions conforme constam nas placas dos carros franceses. Paris tem um código só dela - o 75.

Existe em todo o país um número considerável de colecionadores de placas francesas de carros - são os placófilos (placophiles) que desde 1999 se organizaram fundando a Association Francoplaque. Mais do que cultivar um hobbie, essa associação tem como objetivo a preservação e difusão do conhecimento histórico sobre o tema. E engana-se que pensa que os placófilos não são levados a sério no país - em 2008 eles prestaram importantes contribuições ao Comité d'Histoire du MEEDDAT (o Ministério da Ecologia, da Energia e do Desenvolvimento Sustentável) e às publicações inter-ministeriais que discutiam as melhores práticas para a implantação do sistema SIV de registro de veículos.

2 de março de 2012

Os franceses e o Prêmio Nobel de Literatura


É inegável que a literatura é uma das manifestações artísticas mais valorizadas e apreciadas pelos franceses. Basta circular a esmo por Paris, por exemplo, para que possamos observar a grande quantidade de leitores que estão por toda a parte na cidade. As pessoas lêem no metrô, no ponto de ônibus, às margens do Sena, nas calçadas, nas praças e parques municipais, nos cafés...

Cena cotidiana: No 5ème arrondissement, um morador de rua se entrega a leitura. (foto: Frank Rondot, 2009)

Mas, mais do que ler, os franceses também dominam desde sempre a arte de escrever bem. Portanto, não é a toa que, desde sua criação em 1901, foram os franceses os que mais vezes conquistaram o Prêmio Nobel de Literatura - foram 12 os premiados até agora:

1901: Sully Prudhomme (1839-1907)
1904: Frédéric Mistral (1830-1914)
1915: Romain Rolland (1866-1944)
1921: Anatole France (1844-1924)
1927: Henri Bergson (1859-1941)
1937: Roger Martin du Gard (1881-1958)
1947: André Gide (1869-1951)
1952: François Mauriac (1885-1970)
1960: Saint-John Perse (1887-1975)
1964: Jean-Paul Sartre (1905-1980)
1985: Claude Simon (1913-2005)
2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio (1940-)

Em 1964 Sartre recusou-se a receber o prêmio alegando que ao aceitá-lo estaria indo contra seus princípios de filósofo.

Le Cézio é atualmente o último francês a ser agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.

A medalha concedida pela Academia Sueca foi desenhada por Erik Lindberg e representa em uma face o perfil de Alfred Nobel e na outra um jovem sentado sob uma árvore de louro e que, encantado, redige o que sai da boca da musa em forma de canção.

1 de março de 2012

Burger King volta à França após 15 anos

Está prevista para o dia 21 de março a inauguração de um restaurantes da rede americana Burger King em Paris - mais precisamente no novo centro comercial da gare Saint-Lazare. Outra unidade deve ser inaugurada na França este ano em local ainda indefinido - cogita-se às margens de alguma auto-estrada fora da capital.

Fundado em Miami em 1954 e hoje com aproximadamente 12.000 pontos de venda em mais de 70 países, o Burger King tem praticamente um terço do tamanho da rede McDonald's. A marca operou na França de 1980 - quando abriu sua primeira loja na Champs-Elysées - a 1997, ano em que saiu do país devido a acirrada concorrência com o Mc Donald's e a belga Quick.

E é bom o Burger King ir se preparando desde já, pois a dupla de concorrentes já está de garras bem afiadas. Mal foi lançado o primeiro cartaz de divulgação da reentrada do Burger King em Paris e as provocações publicitárias já começaram, como mostram os cartazes abaixo que já estão circulando por toda a cidade.

O convidativo cartaz de inauguração do Burger King em Paris: "O que você vai fazer em 21 de março?"

Truco! A nada calorosa mensagem de boas-vindas do McDonald´s: "Porque esperar o 21 de março?"

Seis! Já o Quick aposta no lançamento do curioso sanduba Dark Vador: "O que você vai fazer de 2 a 5 de março?"

Além da forte concorrência há um pequeno detalhe cultural que tampouco deve ser deixado de lado: a França é o único país do mundo onde o hambúrguer perde de lavada em vendas para os sanduíches de baguette. Estima-se que para cada hambúrguer vendido na França sejam consumidos 8 sanduíches na baguette.

Mas em contrapartida ao cenário desafiador que a rede americana deve enfrentar em seu retorno a França, a juventude parisiense parece estar contando os dias pelo retorno do Burger King ao país. Vida longa ao rei.

28 de fevereiro de 2012

Allée da rue Oudinot

Não Joãozinho, eu não exagero quando digo que Paris nos reserva surpresas verdadeiramente impressionantes - basta que estejamos dispostos a conhecer a cidade com espírito leve e olhos atentos.

Você simplesmente está lá, flanando despreocupado por um canto qualquer da cidade. Você se detém por um momento e olha em volta. E então você percebe que aquela estreita e bucólica ruazinha está distante dos monumentos suntuosos. Nela não há nada que lembre bulevares de perspectivas infartantes ou pontos turísticos disputados. Nada de edifícios imprestavelmente lindos ou algo que pudesse motivar alguém a dar um olho ou a querer trocar cinco minutos de vida só para estar ali. E é então que, de repente, uma lance qualquer que num primeiro momento parecia tão carente de importância se revela - e aquela cena, lugar ou momento, se transforma diante de seus olhos maravilhados, tornando-se a sua dica secreta; aquele pedacinho mágico de Paris que será para sempre só seu.
A porta do edifício de número 23 é na verdade a entrada para a bela Allée Oudinot.

Ainda não faz muito tempo que minha amiga Bárbara Marques - a Babi - mudou-se para Paris. E não tardou muito para que ela começasse a ter suas próprias revelações parisienses. Uma dessas descobertas é a bela Allée da rue Oudinot - uma grande alameda arborizada que se esconde por trás da porta maciça que protege a entrada do edifício de número 23. Quem passa apressado pela rua Oudinot sequer imagina que possa existir uma vila campestre bem atrás da austeridade da fachada daquele edifício parisiense.
Surpresas parisienses: o refúgio escondido atrás da porta.

Pelas palavras da Babi, "a Allée Oudinot é uma vila que fica escondida dentro de um prédio. Estranho, né? Também achei quando a vi pela primeira vez, mas depois me apaixonei pelo lugar. O acesso é pela entrada do edifício de número 23 da rue Oudinot - próximo ao metrô Duroc. Quando você entra pela porta se depara com várias casinhas que abrigam ateliers de arte e uma escola infantil que oferece aulas de francês aos sábados. Essa área deve abrigar aproximadamente umas 16 casas, todas lindas! E nos dá vontade de ficar um pouco mais por ali."
Vista dos ateliers da Allée Oudinot.

Ainda dá tempo de encaixar uma curiosidade nesse post? Pois então anote esta para fazer bonito quando estiver passeando por ali com sua namorada, Joãozinho: a estação de metrô Duroc, próxima a rue Oudinot, tem esse nome em homenagem a Gérard Christophe Michel Duroc, o duque de Frioul (1772-1813). Duroc foi um importante general do império de Napoleão Bonaparte, tendo se destacado nas campanhas na Itália e Egito. Sua morada atual é o Hôtel des Invalides, onde repousa próximo ao Imperador.

Allée Oudinot
23 rue Oudinot
Metrô: Duroc linhas 10 e 13

Com a colaboração de Bárbara Marques

27 de fevereiro de 2012

Bravo Jean ! Bravo !

O sempre divertido Jean Dujardin e seu merecido Oscar.

Em 2008 publiquei aqui no blog um post sobre a série 'Un gars, une fille' protagonizada por Jean Dujardin e sua esposa Alexandra Lamy. Para quem quiser ler o post e conferir um episódio da série, basta clicar aqui.

14 de fevereiro de 2012

Sonia Rubinsky se apresenta em Paris

A pianista brasileira Sonia Rubinsky se apresentará em Paris no domingo 25 de março de 2012 às 11h00 no Musée d'Art et d'Histoire du Judaïsme.

Sonia Rubinsky, que hoje vive em Paris, interpretará no recital obras de Domenico Scarlatti, Claude Debussy, Heitor Villa-Lobos, Franz Liszt, Giuseppe Verdi, Enrique Granados e Brasilio Itibere para ilustrar o orientalismo através da ótica singular de compositores de diferentes épocas e origens.

Aclamada pela crítica do jornal The New York Times durante sua temporada de apresentações na lendária Carnegie Hall de Nova Iorque em 2011 e tida como uma das melhores pianistas de sua geração, Sonia Rubinsky conquistou importantes prêmios internacionais ao longo da carreira. Entre eles, o Grammy Latino de 2009 de Melhor Gravação do Ano pelo último CD da série de 8 volumes dedicados a registrar a obra completa de Villa-Lobos, o prêmio William Petschek da Juilliard School e o Primeiro Prêmio na International Artists em Nova York.

Cour do Hôtel de Saint-Aignan: palco do próximo recital de Sonia Rubisnky em Paris.

Capaz de harmonizar estilos contrastantes, Sonia Rubinsky conjuga força e poesia com a mesma naturalidade com a que passa dos ritmos e melodias populares do Brasil ao repertório clássico e romântico europeu.

Para garantir sua presença neste recital é imprescindível que você faça sua reserva pelo telefone 01 5301 8648 - de segunda a sexta das 14h00 as 18h00.

Musée d'Art et d'Histoire du Judaïsme
Hôtel de Saint-Aignan
71, rue du Temple - 3ème arrondissement
Tel.: 01 5301 8648
Metrô: Rambuteau linha 11

Para saber mais, acesse: http://www.soniarubinsky.com/

31 de janeiro de 2012

Début de soirée au jardin de tuileries

Foto: Fabrício Barbosa

A Paris do Marcão

Edmilson Siqueira

Marcus Vinicius, um amigo jornalista com quem trabalhei no século passado (Mon Dieu ! Faz 30 anos!) e que não via há um bom tempo, está em Paris no momento em que escrevo essas mal traçadas. Tudo bem, estar em Paris é estar em Paris e eu fico aqui morrendo de inveja e desejando a ele e à Vilma, sua mulher, que encham os olhos e a boca de todos os prazeres possíveis - visuais, táteis, gustativos e olfativos - que encararem na capital francesa. E sabemos que não são poucos. Tenho umas mil fotos que tirei lá e vivo copiando outras da rede, enchendo o HD do micro de paisagens e pessoas deslumbrantes que ajudam um pouco a matar as saudades.


Só que Marcão não é mole não. Logo que chegou a Paris me mandou um e-mail avisando que estava por lá e, sabendo dos meus amores pela cidade, perguntou se eu queria alguma coisa. Disse para ele me enviar as passagens que eu faria todos os pedidos pessoalmente... Só que, junto com o e-mail, encasquetou de enviar uma porção de fotos. Depois enviou mais. Recebi mais de duzentas já. E não são fotos comuns, daquelas que a gente encontra fácil por aí, que qualquer turista faz. São fotos de lugares que não fazem parte do roteiro das agências de viagem, fotos do cotidiano francês, foto do turista tirando foto, foto do bailinho no meio da rua (que eles chamam lá de guiguettes), - todos dançando num domingo com uma temperatura beirando zero grau - foto da loja abrindo ou fechando, foto do mercadinho de frutos do mar, do antigo bar de jazz, das bikes todas esperando para serem alugadas etc. e tal. E, detalhe, resolveu botar legendas em todas elas, assumindo o costume que o trabalho de editor nas redações dos jornais lhe impregnou.


Fiquei horas curtindo as fotos enviadas através do Picasa com o qual, ele confessou, aprendeu a mexer agora, pela pura necessidade de enviar os instantâneos para os amigos. Elas me fizeram sentir que estava passeando em Paris em pleno inverno, coisa que nunca fiz. Senti o ar gelado batendo naquele espaço entre o pescoço e o queixo que insiste em ficar descoberto, senti os pés meio gelados (eu sofro com meus pés no frio - estive a dois graus abaixo de zero em Catamarca, na Argentina, perto dos Andes e toda hora me refugiava no ar quente da van para “recuperar” os pés, mesmo com dois pares de meias e um sapato forrado), as mãos resguardadas em luvas e o inevitável gorro protegendo a cabeça já com poucos cabelos e as orelhas. Zezé viu as fotos comigo e se encolheu na cadeira, sentindo também o ar gelado europeu que ela conhece tão bem, pois viveu um ano em Londres, mais fria que Paris, e não sente saudade do inverno de lá, só de Londres.... Mas iria para Paris no inverno, o que deixou claro na emoção que emanava a cada foto, a cada detalhe que descobríamos, a cada cena invadida por um tímido raio de sol que, conforme disse a Zezé, “é lindo, clareia, mas não esquenta nada”.


As últimas fotos que mandou - devem vir mais, pois faltam uns 20 dias para eles voltarem - devem ter sido feitas sob o efeito da nostalgia. Marcão tem a minha idade, um ano a mais ou a menos, é jornalista e, como eu, deve ter visto muitas revistas na juventude, cheias de fotos do mundo. A maioria dessas fotos era em branco e preto - eu me lembro das revistas Cruzeiro, Fatos e Fotos e Manchete que meu pai trazia. Sempre as devorava com suas grandes fotos que nos davam a idéia de como era o tal do mundo por aí - retratavam desde as guerras que, sem o colorido ficavam mais violentas ainda, até o mundo glamoroso dos ricos e chiques, dos artistas e esportistas, dos aventureiros e dos poderosos. Marcão deve ter sentido saudade da juventude e decidiu fotografar tudo em branco e preto e sépia, se aproveitando dos recursos que a tecnologia atual oferece. Curioso: a tecnologia de hoje nos ajuda a retratar como no passado. O resultado foi uma coleção de Paris “dos anos 40, 50, do século passado”, como se folheássemos as páginas de um exemplar da coleção de O Cruzeiro ou da americana Life, pródiga em fotógrafos que viviam ganhando prêmios por aí.


Ou seja, além de matar a saudade de Paris - pelo menos visual - através da lente do Marcão, ainda pude sentir um pouco do gostinho da adolescência, quando via fotos parecidas nos grandes magazines da época.


A consequência maior de tudo isso é que me deu - e na Zezé também - muito mais vontade de voltar a Paris. Vamos começar a economizar rapidinho. Acho que em dois ou três anos a gente consegue os euros (ou seja lá a moeda que for, do jeito que o mundo está nunca se sabe) para passar mais uma temporadinha em Paris.

Fotos: Marcão