20 de março de 2009

Jacques Tati

Genial e impossível de ser resumida. Assim é a obra de Jacques Tati (1908-1982) - verdadeiro ícone do cinema francês cuja carreira foi fortemente marcada por altos e baixos.

Filho de pai russo e de mãe francesa, o ainda jovem Jacques Tatischeff se projetou no esporte profissional durante a década de 30 como um dos principais jogadores de rugby da França - além de ser um exímio boxeador. Apesar do sucesso no esporte, suas verdadeiras paixões eram as artes cênicas e a escrita. Jacques Tati começou sua carreira artística apresentando-se num espetáculo no Hotel Ritz de Paris. Desde então passou a realizar os números que ele próprio escrevia em grandes casas de espetáculo e cabarés parisienses como Olympia e Lido, e posteriormente em outros países da Europa.

Em 1932 ele decide trabalhar como ator e roteirista em filmes de curta metragem. Esses filmes lhe rendem a participação em dois filmes do consagrado diretor Claude Autant-Lara entre os anos de 1945 e 1946. Entre 1947 e 1949, Jacques Tati inicia a carreira de cineasta com o filme Jour de Fête, no qual conta com a ajuda dos moradores de uma pequena cidade do département de Indre. Seu filme de estréia lhe rende dois prêmios importantes: o de melhor roteiro no Festival de Veneza e o Grande Prêmio do Cinema Francês.

Um de seus filmes mais conhecidos em todo o mundo Les vacances de monsieur Hulot, de 1953, presenteou os cinéfilos com a criação de um dos personagens mais marcantes da historia do cinema francês: o burlesco e sonhador monsieur Hulot. Esse personagem de Jacques Tati é antes de tudo uma reinvenção da figura cômica - um personagem leve cujas aventuras são contadas de forma peculiar, pois usa o senso de observação do espectador como parte fundamental para que seu humor funcione. A grande sacada de Jacques Tati era contestar a desumanização e o individualismo da sociedade moderna através da inocência de Hulot. Em tempo: o personagem Mr. Bean, do ator britânico Rowan Atkinson, foi inspirado em monsieur Hulot.

O prestígio internacional do primeiro filme do personagem foi tanto que permitiu que em 1958 Jacques Tati pudesse realizar outro filme de sucesso com maior aporte financeiro: Mon Oncle - filme que recebeu o Prêmio Especial do Juri em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1959.

Depois do estrondoso sucesso de seus primeiros filmes, Jacques Tati sai de cena durante 6 anos para trabalhar em um projeto audacioso: uma superprodução de 2h30 de duração chamada Playtime. Seu retorno às telas, porém, foi um enorme fracasso. Playtime, concebido como a obra-prima definitiva de Tati, lhe resulta num prejuízo monumental. Para tentar se recuperar ele lança em 1970 o filme Trafic que, apesar do relativo sucesso, não foi suficiente para livrar Jacques Tati da falência. Quatro anos mais tarde, ele promoveria um leilão dos negativos de suas obras numa tentativa desesperada de levantar fundos. O trabalho de seus últimos 15 anos de vida foi dedicado ao pagamento das dívidas contraídas pela realização de Playtime.

Jacques Tati é uma das personalidades mais completas e singulares do cinema francês. Singularidade que se revela na quantidade modesta de obras em sua filmografia: devido às dificuldades financeiras, conseguiu realizar apenas 6 filmes de longa metragem em 40 anos de carreira. E essas 6 obras foram suficientes para eternizar o nome do “engenheiro da comédia” na historia da sétima arte. Um engenheiro sonhador que tinha na observação das pessoas sua grande fonte de inspiração. Tanto Les vacances de monsieur Hulot quanto Playtime aparecem na lista dos 100 maiores filmes da historia do cinema mundial - um reconhecimento que, infelizmente, chegou tarde demais para monsieur Tati.

Jacques Tati morreu em Paris em 1982, vítima de embolia pulmonar enquanto trabalhava na preparação de um cenário.

Segue abaixo o trailer de Les vacances de monsieur Hulot.



Para saber mais, acesse o site oficial de Jacques Tati: TatiVille.com.

"A vida é engraçada, se dedicarmos tempo para observá-la." Jacques Tati.

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