Assim, preferi não fazer parte desse contingente e segui rumo a Sorbonne. Logo no caminho uma otima surpresa: a RATP colocou durante todo o dia um trem dos anos 30 em operação na linha 10 do metrô, com agentes de transporte vestidos a carater. Foi uma sorte danada ter pego esse trem e poder observar o olhar de encantamento dos passageiros - sobretudo dos mais idosos. O trem, impecavelmente restaurado, tinha o interior todo em madeira, lâmpadas incandecentes e bagageiros em aço trabalhado. Peço que me perdoem pela falta de qualidade da foto, mas com o balanço da composição aliado à tecnologia neanderthal da minha maquina fotografica não deu pra fazer melhor. Désolé.
Depois de viajar no tempo pelos trilhos do metrô, cheguei finalmente à Sorbonne. E foi ali que me arrependi mais do que nunca por não ter dado ouvidos à mãe e me empenhado mais nos estudos. Fiquei imaginando como deve ser estudar em uma universidade daquelas. Criada em 1253 por Robert de Sorbon para acolher estudantes carentes, a universidade é hoje uma das maiores referências mundiais em educação superior. Varios daqueles caras que desenvolveram as leis das ciências ou que escreveram obras literarias que fazem os estudantes universitarios de hoje arrancarem os cabelos em véspera de prova, passaram com mérito pela Sorbonne. Quer alguns nomes? Jean-Jacques Ampère (fisico que da nome a unidade de medida de corrente elétrica), o Papa Bento XVI (ele mesmo), Honoré de Balzac (escritor), Pierre de Coubertin (renovador dos JOs modernos), Marie e Pierre Currie (fisicos), Simone de Beauvoir (escritora), Jean-Luc Godard (cineasta), Henri Poincaré (fisico e matamatico), Jean-Paul Sartre (filosofo e escritor), São Vicente de Paulo, entre outros de igual importância. Entre os brasileiros destacam-se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o diplomata Sergio Vieira de Mello.
A biblioteca, apesar de contar com um controle de acervo completamente informatizado, mantém até hoje os pesados arquivos de madeira com as fichas de cada um de seus livros. Algumas dessas fichas, escritas a bico de pena no século XIV - um verdadeiro monumento de respeito pelo patrimônio. Acho que a foto fala por si mesma - saiu um pouco torta devido a emoção do momento.
Depois de passar toda manhã babando de encantamento pelos corredores da Sorbonne, decidi aproveitar o bonito dia de sol para prestigiar outro patrimônio: os Marchés Flottants du Sud-Ouest. Uma feira de produtos tipicos do sudoeste francês que se instala anualmente durante todo um final de semana no quai Montebello. E não podia haver lugar melhor para almoçar. E em meio ao jazz festivo que uma banda local tocava sem parar, o Joãozinho aqui escolheu um cantinho às margens do Sena para fazer uma boquinha. Positivo. O meliante foi visto no local portando uma taça de vinho em uma das mãos, um pratinho com uvas, escargots e camembert na outra e um sorriso que não lhe saia do rosto nem por decreto. A Notre-Dame, que estava bem atras de mim, é testemunha. Durante todo o dia foram distribuidos gratuitamente sacolas com amostras de produtos tipicos. Assim, voltei para casa com meu "kit Sud-Ouest" com maçãs, uvas e algumas cabeçorras de alho. Tudo era tão ordenado que parecia até distribuição de hostia na hora da comunhão.
Apos comprar ali mesmo o cardapio completo do jantar, fui para a exposição de veiculos antigos da policia e do corpo de bombeiros em frente ao prédio da Préfecture de Police de Paris. Ali, uma espetacular mostra de carros, motos e caminhões que fizeram ativamente parte da corporação desde os idos de 1900 - como este belissimo carro de bombeiros de 1913 com rodas de madeira e motor à manivela. Detalhe: ele ainda funciona perfeitamente!
Ja no domingo, tentei novamente o Palais de l'Elysée, mas a fila estava ainda maior que no dia anterior. A noticia de que Carla e Sarko estavam saudando os visitantes no sabado animou mesmo o pessoal. Abandonando de vez a idéia, segui então em direção ao Hôtel Matignon, residência oficial do Primeiro Ministro francês François Fillon. Além dos diversos salões do edificio e o impecavel jardim, era possivel visitar inclusive o gabinete de trabalho do Primeiro Ministro. A mesa estava como se ele acabasse de sair para buscar um café - so de olhar deu para descobrir que ele é fã da equipe Ferrari de F1 e que escreve com caneta tinteiro, daquelas que se molha a pena no vidro de tinta. Infelizmente não era possivel fotografar dentro do Hôtel Matignon, mas consegui boas fotos do jardim e da area externa.
O edificio de 1722 que ja pertenceu a Talleyrand e ao proprio Napoleão Bonaparte também abrigou o general de Gaulle durante a Segunda Guerra Mundial. Acima, os fundos do Hôtel Matignon qua da acesso ao jardim - que pode ser visto logo abaixo.
Agora simpatica mesmo foi a acolhida no Hôtel de Villeroy, sede do Ministério da Agricultura e da Pesca. O pessoal era super sorridente e atencioso - deve ser o ministério com o clima mais legal para se trabalhar por aqui. Mas ainda assim fico pensando que num pais como a França, com tanta regulamentação e padronização de produtos que passam sob o controle rigoroso desse ministério (queijos, pães, vinhos, frutos do mar, etc.) o trabalho por ali não deve ser nada facil. Na foto, o Hôtel de Villeroy.
Enfim, depois de um final de semana 'cheio' desses, ficou meio dificil manter o blog em dia. Mas espero ter me redimido ao compartilhar com vocês um pouquinho da minha Journée du Patrimoine deste ano. Espero que quem esteve presente possa ter aproveitado tanto quanto eu, e quem ainda não teve a oportunidade de participar possa fazê-lo em breve. Posso garantir que assinar o nome no Livre d'Or do Hôtel Matignon, ler Jacques Prévert na biblioteca da Sorbonne ou andar num trem de metrô da época em que o vovô ainda usava calça curta faz um bem danado à cabeça e ao coração.
Para saber mais:
http://www.premier-ministre.gouv.fr/
http://www.paris-sorbonne.fr/
http://www.journeesdupatrimoine.culture.fr/
http://www.marchesflottants.fr/
Um comentário:
Maravilha , deu saudades de Paris
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