17 de setembro de 2008

Musée de l'Orangerie

No domingo 7 de setembro (sim, estou em atraso com esse post), aproveitando a manhã chuvosa e a tão esperada chegada do "dia dos museus gratuitos em Paris", visitei o musée de l'Orangerie que fica dentro do jardim de Tuileries. Para quem ainda não sabe, no primeiro domingo de cada mês varios museus da cidade têm entrada gratuita. Mas falarei sobre isso em outro post, d'accord?

O musée de l'Orangerie abriga aquela que talvez seja a obra mais impressonante de Claude Monet: Les Nymphéas (As Ninféias). Eu ja conhecia um pouquinho sobre os quadros, mas ainda não os tinha visto pessoalmente. Uma obra que resume em si mesma a essência do significado de "arte impressionista".

Para mim o mais impressionante não é a visão das pinturas em si, mas ter conhecido em detalhe, apos ver um belissimo documentario na midiateca do museu, o contexto historico e pessoal no qual Monet pintou Les Nymphéas. Entre 1895 e 1926 (ano de sua morte), Monet pintava às margens de um jardim aquatico que ficava em sua propriedade em Giverny, na Normandia. O famoso lago de ninféias foi retratado pelo artista em aproximadamente 300 telas, dentre as quais, mais de 40 em painéis de grande formato. Durante esse periodo, Monet fez de seu jardim um verdadeiro laboratorio estético.

As telas expostas no musée de l'Orangerie foram criadas unicamente para ser um presente do pintor à França. O edificio do museu, um antigo deposito de laranjas de Tuileries, foi escolhido por Monet em 1920 para abrigar as ultimas telas que ele pintaria de seu jardim de ninféias. Durante 7 anos, a chefe de arquitetura do Louvre, Camille Lefèvre coordenou os trabalhos de reforma do edificio seguindo as indicações do proprio Monet. Assim, o museu toma a forma de um refugio de paz e sossego em meio a uma região movimentada da cidade.

Les Nynphéas é um apelo à reflexão humana sobre a pureza e tranquilidade que podemos obter através do contato com natureza e com nosso proprio interior. A obra foi concebida em plena primeira guerra mundial, e foi a linda forma de Monet contestar a barbarie da guerra. Sua maneira particular de acabar com aquela insanidade feita de chumbo e desespero, de pôr um fim ao odio e sofrimento instaurados no coração humano através da reflexão. Como se convidasse cada um a abandonar toda a tristeza para se sentar com ele às margens de seu sossegado lago em Giverny, simplesmente para contemplar a beleza e esquecer o sofrimento.

Outro detalhe curioso: as telas são uma visão panorâmica de um lago, e por isso são dispostas em toda a volta de duas salas elipticas. As telas pintadas ao entardecer, estão voltadas para o Oeste, enquanto que as telas pintadas ao amanhecer ficam a Leste. Também por isso, o museu fica ao longo do Sena, no ponto onde o rio se alinha ao eixo Leste/Oeste da cidade - todo o contexto de concepção do museu foi brilhantemente pensado por Monet. As aguas do Sena passando bem ao lado de l'Orangerie, segundo o proprio Monet, daria a real sensação do tempo que passa enquanto se observa a obra - é algo como, deixar o tempo passar enquanto você contempla nada além de beleza, fazendo assim, bom uso do seu tempo. A disposição das duas salas em elipse tem o objetivo de representar o infinito e as ante-salas vazias entre uma elipse e outra representam o sagrado.

O filme também explica que Monet pintou Les Nymphéas no final da vida, pouco tempo antes de morrer. Tanto que nem chegou a ver a obra instalada no museu - o qual ja estava pronto, aguardando apenas sua conclusão para que as telas fossem expostas. Nesse meio tempo, era Georges Clemenceau, amigo influente de Monet quem acalmava os administradores do museu para que Monet pintasse em seu proprio ritmo, sem que fosse pressionado pelo prazo. Clemenceau sabia melhor do que ninguém a fragil condição do pintor. A catarata que castigava Monet em seus ultimos dias era tão severa que boa parte da obra foi pintada sem que ele enxergasse as cores com as quais pintava - guiava-se apenas pela disposição das tintas na sua paleta, pois colocava as cores sempre nos mesmos lugares para pintar. Uma historia simplesmente apaixonante de amor pela arte e pela humanidade. Poucas vezes me emocionei tanto ao visitar um museu.

Mas além das telas de Monet, o musée de l'Orangerie expõe ainda obras de Paul Cézanne, Henri Matisse, Pablo Picasso, Amadeo Modigliani, Pierre-Auguste Renoir e Alfred Sisley, que faziam parte dos acervos pessoais do arquiteto jean Walter e do merchand de arte Paul Guillaume, fundador do museu. Atualmente o musée de l'Orangerie é dirigido pelo historiador de arte Pierre Georgel - um dos maiores conhecedores do mundo sobre o trabalho do escritor Victor Hugo.

Para ilustrar, coloquei algumas fotos tiradas durante minha visita ao museu.

Musée de l'Orangerie
Place de la Concorde jardin de Tuileries
Metrô: Concorde ou Tuileries linha 1
Ônibus: parada Concorde das linhas 24, 42, 52, 72, 73, 84 e 94
Tel.: 01 4477 8007
Entrada gratuita para menores de 18 anos

Para saber mais: http://www.musee-orangerie.fr/
Para comprar ingressos na Fnac: Musée de l'Orangerie

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