Falar sobre costumes culturais é sempre um tema delicado. Mas aprender um pouquinho sobre a cultura social de um país diferente que se pretende visitar é tão importante quanto conhecer seu idioma. E não me refiro aqui à cultura relacionada às artes, falo sobre fatores básicos da vida em sociedade. De comportamento. Da maneira como a vida cotidiana funciona no lugar. Creio que isso serve para qualquer pessoa, em qualquer lugar: para o brasileiro visitando a França, o alemão que vai ao Brasil ou o americano em férias na Indonésia. Às vezes são detalhes simples que não apenas abrem portas, mas evitam situações embaraçosas, além de ser uma bonita demonstração de atenção e respeito ao país visitado.
Portanto, peço que ouça com reservas o turista que acabou de voltar de Paris reclamando que o parisiense é mal-humorado e criticando a maneira como as pessoas agem ou se vestem. Normalmente esse é o tipo de turista que já sai da casa com uma imagem estereotipada na cabeça. Que prefere colher opiniões ao invés de planejar a viagem e que, infelizmente, por fazer uso de uma visão simplista sobre a vida cotidiana da cidade, pouco terá a acrescentar na volta. Vai falar de compras, de comida, mostrar fotos de monumentos (sim, muitas fotos, pois passa pelos marcos historicos na velocidade de um click) e passar adiante suas impressões distorcidas.
Por isso acredito que “Viver Paris é descobrir a cidade por conta própria... Nada se compara às suas próprias experiências.” Essas frases estão na apresentação do blog. E creio que também se aplicam bem aqui. Quer uma dica preciosa? Talvez a melhor que eu possa lhe dar? Veja o mundo com seus próprios olhos. Experimente a atmosfera parisiense por si mesmo. O resultado de uma viagem feita com a cabeça livre de conceitos pré-concebidos, porém aberta às novidades, seguramente vai te surpreender. Para uma viagem agradável a boa informação é essencial. Já os julgamentos colhidos de segunda mão são totalmente dispensáveis.
E esse verdadeiro clássico do conceito distorcido, no qual “o francês não se esforça em entender, é mal-humorado e não gosta de falar inglês” deve ser visto com cautela.
Sim, os franceses de modo geral falam bem inglês. Por outro lado, vejo que o problema esta mais nas nossas diferenças culturais do que no fato deles gostarem ou não de falar o inglês. As regras básicas de etiqueta social que infelizmente estão saindo de uso no Brasil, aqui são respeitadas a risca. Ignorar essas regras é o que faz toda a diferença entre receber um sorriso e atenção ou um semblante fechado. Portanto, quer ver um francês ser afável e prestativo? Dirija-se a ele com a devida cordialidade. Quer um exemplo prático? Imagine que você precisa de uma informação simples e vai abordar uma pessoa na banca de jornal.
Assim não: “Onde fica a rue du Bac?” Variações: “Escuta, onde fica a rue du Bac?”, “Ô meu querido, onde fica a rue du Bac?” ou ainda “Psiu... Onde fica a rue du Bac?”
Assim sim: “Bom dia, por gentileza, o senhor sabe me informar onde fica a rue du Bac?” Variação: “Com licença, o senhor pode me informar onde fica a rue du Bac?”
Portanto, não é o inglês o problema, mas a maneira como se fala com as pessoas. Com um pouquinho de educação o turista consegue facilmente atenção e cordialidade - em francês, inglês, mímica ou desenho. E isso vale para falar com o garçom, com a atendente da loja ou com o seu Pierre da quitanda.
Portanto, responda sempre a uma saudação. Não custa nada retribuir a cordialidade e faz uma diferença imensa. Se ao entrar na lojinha de souvenirs a moça do caixa te disser bonjour, por favor, faça o mesmo por ela. E agradeça: seja a informação recebida, a atenção da pessoa que lhe cedeu passagem no elevador, etc. Um simples merci mostra que você pode não saber falar francês, mas é educado.
Além disso, aja com naturalidade, sem elevar a voz, sem muita gesticulação, sem tocar as pessoas ao falar - seja na rua, em casa ou no trabalho. Ser discreto e comedido é a norma fundamental e o segredo da elevação social.
Sobre a boa vontade na compreensão há um ponto importante que muita gente desconhece: o idioma francês tem muitas sutilezas de pronuncia, e vem daí a dificuldade dos franceses em compreender corretamente alguém que tenta se comunicar em francês meio “engessado”. Quer um exemplo?
Dessus (acima); dessous (abaixo); déçu (desapontado): em português pode parecer fácil de pronunciar essas palavras de forma distinta, mas em francês a diferença entre elas é extremamente sutil.
O intuito desta postagem não é desfilar regras de convívio social, mas mostrar que a diferença cultural entre os dois países existe e pode ser facilmente minimizada através do respeito e da compreensão pelos valores culturais que ja estão fortemente enraizados no dia a dia das pessoas. Esse, no meu entendimento, é o melhor modo de evitar situações desagradáveis ou mal-entendidos desnecessários. Para quebrar o gelo, é preciso apenas um sorriso, respeito e cordialidade. Sei que este post pode ser desnecessario para alguns e parecer um tanto cáustico para outros. Mas pelo que ja testemunhei por mim mesmo, sei que também pode ser util à muita gente.
Ilustração: Louis-Philippe Cyr
Portanto, peço que ouça com reservas o turista que acabou de voltar de Paris reclamando que o parisiense é mal-humorado e criticando a maneira como as pessoas agem ou se vestem. Normalmente esse é o tipo de turista que já sai da casa com uma imagem estereotipada na cabeça. Que prefere colher opiniões ao invés de planejar a viagem e que, infelizmente, por fazer uso de uma visão simplista sobre a vida cotidiana da cidade, pouco terá a acrescentar na volta. Vai falar de compras, de comida, mostrar fotos de monumentos (sim, muitas fotos, pois passa pelos marcos historicos na velocidade de um click) e passar adiante suas impressões distorcidas.
Por isso acredito que “Viver Paris é descobrir a cidade por conta própria... Nada se compara às suas próprias experiências.” Essas frases estão na apresentação do blog. E creio que também se aplicam bem aqui. Quer uma dica preciosa? Talvez a melhor que eu possa lhe dar? Veja o mundo com seus próprios olhos. Experimente a atmosfera parisiense por si mesmo. O resultado de uma viagem feita com a cabeça livre de conceitos pré-concebidos, porém aberta às novidades, seguramente vai te surpreender. Para uma viagem agradável a boa informação é essencial. Já os julgamentos colhidos de segunda mão são totalmente dispensáveis.
E esse verdadeiro clássico do conceito distorcido, no qual “o francês não se esforça em entender, é mal-humorado e não gosta de falar inglês” deve ser visto com cautela.
Sim, os franceses de modo geral falam bem inglês. Por outro lado, vejo que o problema esta mais nas nossas diferenças culturais do que no fato deles gostarem ou não de falar o inglês. As regras básicas de etiqueta social que infelizmente estão saindo de uso no Brasil, aqui são respeitadas a risca. Ignorar essas regras é o que faz toda a diferença entre receber um sorriso e atenção ou um semblante fechado. Portanto, quer ver um francês ser afável e prestativo? Dirija-se a ele com a devida cordialidade. Quer um exemplo prático? Imagine que você precisa de uma informação simples e vai abordar uma pessoa na banca de jornal.
Assim não: “Onde fica a rue du Bac?” Variações: “Escuta, onde fica a rue du Bac?”, “Ô meu querido, onde fica a rue du Bac?” ou ainda “Psiu... Onde fica a rue du Bac?”
Assim sim: “Bom dia, por gentileza, o senhor sabe me informar onde fica a rue du Bac?” Variação: “Com licença, o senhor pode me informar onde fica a rue du Bac?”
Portanto, não é o inglês o problema, mas a maneira como se fala com as pessoas. Com um pouquinho de educação o turista consegue facilmente atenção e cordialidade - em francês, inglês, mímica ou desenho. E isso vale para falar com o garçom, com a atendente da loja ou com o seu Pierre da quitanda.
Portanto, responda sempre a uma saudação. Não custa nada retribuir a cordialidade e faz uma diferença imensa. Se ao entrar na lojinha de souvenirs a moça do caixa te disser bonjour, por favor, faça o mesmo por ela. E agradeça: seja a informação recebida, a atenção da pessoa que lhe cedeu passagem no elevador, etc. Um simples merci mostra que você pode não saber falar francês, mas é educado.
Além disso, aja com naturalidade, sem elevar a voz, sem muita gesticulação, sem tocar as pessoas ao falar - seja na rua, em casa ou no trabalho. Ser discreto e comedido é a norma fundamental e o segredo da elevação social.
Sobre a boa vontade na compreensão há um ponto importante que muita gente desconhece: o idioma francês tem muitas sutilezas de pronuncia, e vem daí a dificuldade dos franceses em compreender corretamente alguém que tenta se comunicar em francês meio “engessado”. Quer um exemplo?
Dessus (acima); dessous (abaixo); déçu (desapontado): em português pode parecer fácil de pronunciar essas palavras de forma distinta, mas em francês a diferença entre elas é extremamente sutil.
O intuito desta postagem não é desfilar regras de convívio social, mas mostrar que a diferença cultural entre os dois países existe e pode ser facilmente minimizada através do respeito e da compreensão pelos valores culturais que ja estão fortemente enraizados no dia a dia das pessoas. Esse, no meu entendimento, é o melhor modo de evitar situações desagradáveis ou mal-entendidos desnecessários. Para quebrar o gelo, é preciso apenas um sorriso, respeito e cordialidade. Sei que este post pode ser desnecessario para alguns e parecer um tanto cáustico para outros. Mas pelo que ja testemunhei por mim mesmo, sei que também pode ser util à muita gente.
Ilustração: Louis-Philippe Cyr
2 comentários:
Concordo plenamente!Meu esposo e eu estivemos em Paris em setembro e so fomos bem recebidos pelo povo frances, inclusive em restaurantes e lojas. Nao falo o frances, mas fiz questao de aprender os cumprimentos e agradecimentos na ligua para comecar a entabular a conversa e continuar em ingles.Um abraco!
Ana Luisa, achei muito legal o seu comentario - um otimo exemplo de que a cordialidade é uma via de mão dupla. Muito obrigado e um abração pra vocês.
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