31 de outubro de 2008

Un seul monde : Nous sommes ici !

Acabo de voltar da rua. Imagino que quem ouviu a Jovem Pan esta manhã deve ter ouvido o Reali Jr. comentar que os termômetros às margens do Sena devem estar tremendo de frio - frio, vento e uma chuva fininha e constante. Hoje nem as pombas se animavam a botar o pescoço de fora - se encorujavam em bolotas felpudas e cinzentas, enfileiradas no parapeito das janelas. Como precisei sair cedo para atender alguns afazeres, resolvi aproveitar a deixa mesmo estando o tempo de cara amarrada e caminhar um pouco pela cidade - e também registrar algumas imagens para o blog.

A entrada do Jardin de Tuileries pela rue du Rivoli.

Em certo ponto da andança, enquanto eu esperava para atravessar a rue Tronchet ainda próximo à Madeleine, me distrai olhando um daqueles grandes mapas de rua que eu costumo chamar de 'Vous êtes ici' (você está aqui). Antes mesmo do farol de pedestres abrir fui abordado por um parisiense prestativo que me perguntou se eu precisava de ajuda. Comentei com ele que na verdade eu estava era estranhando a posição do mapa, pois eu seguia em direção à square Edouard VII e o mapa dizia que eu deveria tomar o caminho oposto. O rapaz então me explicou que aquele mapa havia sido instalado de cabeça para baixo. "Toda vez que passo por aqui e vejo alguém consultando o mapa paro pra avisar e indicar o caminho. Como conheço bem o quartier fica fácil ajudar. Mas a prefeitura ja foi avisada." Agradeci e nos saudamos mutuamente com votos de "Bonne journée". Chovia. Ventava. Os termômetros marcavam 3 graus ao sol. As pombas seguiam redondas, sem pés nem pescoço. E ainda assim o cara foi um exemplo voluntário de boa vontade. Seu único interesse: ajudar um estranho aparentemente perdido.

Jardin de Tuileries, hoje às 8h30: "Ué! Pra onde foi todo mundo?"

Um dos meus afazeres da manhã era deixar alguns documentos de trabalho num escritório do 8ème arrondissement. Mas ainda precisava encontrar um envelope de papelão rígido. Depois de comprá-lo numa papelaria familiar da rue de l’Isly achei que seria uma boa pedida procurar uma brasserie onde eu pudesse preenche-lo e fazer algumas anotações enquanto me aquecia com uma xícara de café. Achei uma bem bacana não muito longe dali. Apoiei-me numa ponta do balcão, pedi um expresso e saquei meu caderno, caneta e o tal envelope da mochila. Para minha surpresa meu café foi parar numa mesa grande, daquelas que acomodam 4 pessoas. Uma senhora, provavelmente proprietária da brasserie, disse para eu me acomodar na mesa, onde seria mais confortável para escrever. Em Paris, sabidamente o café servido no balcão custa praticamente a metade do que você pagaria se o pedisse na mesa. Ao pagar a conta, me cobraram o preço do café no balcão - a cordialidade era por conta da casa.

Palais Garnier: Opéra National de Paris.

Devo ter ficado aproximadamente umas 2 horas e meia fora de casa. E foi o suficiente para colher dois bons exemplos de que a imagem do "parisiense carrancudo e mau-humorado" é um dos estereótipos mais contestáveis e condenáveis do qual tenho notícia. Já faz um bom tempo que decidi não mais aceitar a rotulação de povos e pessoas. Tenho verdadeira aversão por aquela coisa de “Ah, mas todo 'langoliano' é assim...” Venha com esse tipo de papo para o meu lado e verá até que ponto um bom brasileiro também pode se tornar mau-humorado. Nações são feitas de indivíduos. Cada um com suas virtudes e defeitos. Cada um com suas idiossincrasias. E acho no mínimo injusta qualquer tentativa de expansão disso para todo um povo ou nação, seja esta qual for. Pude comprovar isso em todo e qualquer lugar do mundo onde meus pés já tenham pisado. E é perceber a grandiosidade de pequenos gestos nas mais simples situações cotidianas que fazem com que eu me sinta em casa onde quer que eu esteja.

Dale gomia!: A bonita placa em baixo-relevo foi um presente da Argentina à cidade de Paris em agradecimento ao nome da rue d'Argentine.

Acreditar na bondade e generosidade das pessoas independente de quem elas sejam ou de onde quer que venham. Para um mundo melhor isso não é algo apenas permitido - é necessário. O calor-humano compensou enfim, o frio desta manhã de sexta-feira.

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